Crítica | Jurado Nº 2 - Explora a ideia de que justiça e verdade não são necessariamente sinônimos, expondo um sistema que frequentemente busca conforto em narrativas convenientes ao invés de confrontar problemas reais.
Divulgação | Max |
Título | Juror 2 (Título original) |
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Ano produção | 2023 |
Dirigido por | Clint Eastwood |
Estreia | 20 de dezembro de 2025 (Brasil) |
Duração | 114 Minutos |
Classificação | 14 - Não recomendado para menores de 14 anos |
Gênero | |
País de Origem | Estados Unidos |
Sinopse
Enquanto atua como jurado em um julgamento por assassinato, Justin Kemp (Hoult) se vê em um dilema moral... podendo influenciar o veredito do júri.
• Por Alisson Santos
• Avaliação - 9/10
É impossível abordar "Jurado Nº 2", de Clint Eastwood, sem mencionar a forma decepcionante com que a Warner Bros. Pictures tratou o filme. Apesar de Eastwood ser um dos diretores mais confiáveis e rentáveis do estúdio, conhecido por sucessos como 'A Mula', 'Sully: O Herói do Rio Hudson' e 'Sniper Americano', o longa recebeu um lançamento extremamente limitado nos Estados Unidos, sem qualquer plano de expansão e um lançamento sem alarde pelo Max no resto mundo. Isso é particularmente desrespeitoso para um cineasta com 94 anos e uma carreira lendária. Embora não seja o único diretor veterano a enfrentar dificuldades para financiar projetos em seus últimos anos, é impressionante que alguém com tamanha consistência seja marginalizado dessa forma.
Diferentemente de produções grandiosas com 'Megalópolis' de Francis Ford Coppola ou 'Assassinos da Lua das Flores' de Martin Scorsese, que receberam amplo lançamento, "Jurado Nº 2" é um drama jurídico acessível. Remete a um gênero popular entre 1990 e início dos anos 2000, como 'A Firma', 'Tempo de Matar' ou 'Questão de Honra'. Não era esperado que o filme fosse um fenômeno de bilheteria, mas com um orçamento modesto de U$ 35 milhões, era praticamente garantido que seria lucrativo apenas pelo peso do nome de Clint Eastwood.
No entanto, discutir orçamento e bilheteria não faz jus à relevância de "Jurado Nº 2", talvez o trabalho mais poderoso de Eastwood em anos. Isso é significativo, considerando que obras recentes como 'O Caso Richard Jewell' e 'Cry Macho: O Caminho para Redenção' já demonstram a maestria do diretor. Embora 'Cry Macho' tivesse sido uma despedida poética, um olhar introspectivo sobre sua carreira, "Jurado Nº 2" prova que Eastwood ainda tem algo urgente a dizer.
O filme segue Justin Kemp (Nicholas Hoult), um jovem prestes a ser pai que é convocado como jurado em um julgamento de assassinato. Ele tenta escapar da responsabilidade usando a gravidez de risco de sua esposa como justificativa, mas acaba sendo selecionado. O caso envolve um homem acusado de matar a namorada e jogar o corpo de uma ponte após uma briga. Logo, Justin percebe que estava na mesma ponte na noite do crime, onde pensou ter atropelado um cervo. Com horror crescente, ele começa a entender que pode ter sido o verdadeiro responsável pela morte da mulher e que o réu é inocente. Diante disso, Justin precisa decidir se convence os jurados da inocência do homem sem incriminar a si mesmo ou se deixa um inocente ser condenado para proteger sua família.
Divulgação | Max |
Eastwood constrói uma narrativa envolvente, enfrentando dilemas morais complexos tanto do protagonista quanto do sistema judicial. A promotora vivida por Toni Collette é inicialmente retratada como uma figura ambiciosa, determinada a ganhar o caso a qualquer custo, mas, ao longo do filme, emerge como uma bússola moral. Quando percebe que a acusação se baseia em evidências frágeis, seu papel muda, trazendo reflexões sobre a falibilidade do sistema.
A direção de Eastwood, com seu estilo caracteristicamente direto e sem firulas, atinge uma sofisticação rara. Ele utiliza sua experiência para bloquear cenas de maneira precisa, extraindo o máximo de impacto dramático. Em "Jurado Nº 2", ele guia o público por um terreno moral ambíguo, questionando as fronteiras entre justiça e verdade.
Embora Eastwood muitas vezes seja criticado por suas inclinações políticas conservadoras, isso apenas enriquece suas reflexões sobre os mitos americanos. Como John Ford antes dele, seus filmes não são celebrações cegas da grandeza dos Estados Unidos, mas investigações melancólicas sobre suas falhas. "Jurado Nº 2" explora a ideia de que justiça e verdade não são necessariamente sinônimos, expondo um sistema que frequentemente busca conforto em narrativas convenientes ao invés de confrontar problemas reais. Quem esse sistema realmente serve? Em um mundo onde a justiça parece cada vez menos imparcial, o filme de Eastwood soa como um retrato essencial da luta pela verdade em tempos de pós-verdade. Este é, sem dúvida, um dos melhores trabalhos de um dos maiores cineastas da história.
"Jurado Nº 2" já está disponível na Max.
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