Crítica | O Corvo - Depois de uma longa espera para que "O Corvo" voe novamente, esse filme deixa um gosto amargo na boca.

Divulgação | Imagem Filmes

TítuloThe Crow (Título original)
Ano produção2022
Dirigido porRupert Sanders
Estreia
22 de agosto de 2024 (Brasil)
Duração 110 Minutos
Classificação18 - Não recomendado para menores de 18 anos
Gênero
Ação
País de Origem
Estados Unidos 
Sinopse

Eric Draven (Bill Skarsgård) e Shelly Webster (FKA twigs) são almas gêmeas conectadas por um passado sombrio. Após o brutal assassinato do casal, é concedido a Eric uma chance de salvar seu verdadeiro amor. Ele, então, embarca em uma jornada implacável por vingança, atravessando os limites entre o mundo dos vivos e dos mortos para corrigir erros e fazer justiça com as próprias mãos.

• Por Alisson Santos 
• Avaliação - 4/10

Por quase duas décadas, Hollywood lutou para dar vida ao reboot de "O Corvo". Todos, de Luke Evans a Jason Momoa, circularam em algum momento, pois o projeto parecia amaldiçoado com vários começos, mas sem continuidade no final. Talvez tenha sido um sinal do além, dizendo a todos para desistir, já que nada jamais capturaria o efeito relâmpago do original de 1994 estrelado pelo falecido Brandon Lee. Bem, ninguém atendeu a esse chamado, e agora temos essa carniça: um reboot sem alma e vazio que não justifica nenhuma razão para existir. 

O maior pecado que "O Corvo" de Rupert Sanders comete, é anexar o nome de Eric e Shelly a essa confusão descarada. É compreensível por que a decisão foi tomada, já que deveria servir como uma homenagem ao original, embora a história seja diferente, mas cara, parece um insulto ao filme de Alex Proyas. Nesta versão, Eric e Shelly (FKA Twigs) se encontram em um centro de reabilitação. Eles fogem e começam a viver a vida juntos, ficando chapados e deixando crescer os mullets, no entanto, Shelly teme que pessoas más, lideradas por Vincent Roeg (Danny Huston), os encontrem por causa de um vídeo que ela possui. Claro, eles são eliminados pelos capangas. Mas o poder do amor é uma coisa curiosa e Eric volta para se vingar, e para encontrar uma maneira de trazê-la de volta à vida (como a música do Evanescence).

Por onde começar aqui? Primeiro de tudo, o roteiro de Zach Baylin e William Schneider é mais furado do que Zé Pequeno em Cidade de Deus. Apenas em um nível básico, a narrativa nunca explora as motivações dos personagens. Isso é um grande problema em termos de Roeg e seus comparsas. Há elementos do relacionamento de Eric e Shelly que também não fazem sentido. Ela está tentando se esconder de Roeg, mas eles saem com amigos para nadar no lago. Então, ela diz a Eric que quer deixar a cidade e começar em outro lugar, então eles vão a uma boate lotada para fazer um show de dança na frente de todos. Na verdade, é ridículo o tempo que os capangas de Roeg levaram para encontrá-los em primeiro lugar, a julgar pelo quão indiferente Shelly estava sobre tudo isso.

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Também está claro que a montagem de "O Corvo" não ajuda o filme, pois há cenas cruciais faltando que devem ter sido filmadas em algum momento. Não se engane, o diretor de fotografia Steve Annis possui um olhar aguçado para capturar cenas lindas e há momentos de beleza genuína aqui, mas a costura de todo esse material não funciona. Como espectador, há saltos para uma parte da história em que eu perguntei: "Eu estou drogado? Eu perdi algo?" Então, eu percebi que não, eu estava sóbrio, e era apenas a maneira como o filme é contado, pois recebeu cortes brutais para ter menos de duas horas, independentemente de quanto da história vá para o limbo.

O mais decepcionante é que Bill Skarsgård faz uma performance até decente como Eric. Ele consegue trabalhar com o roteiro à sua disposição. Ele sabe quando aumentar ou diminuir a intensidade para uma cena específica. No entanto, ele é severamente afetado por seus colegas de elenco. Shelly, de FKA Twigs, apenas sorri e fala em um sussurro sedutor abafado, agindo mais como um personagem sem carisma de Gossip Girl do que alguém com qualquer capacidade de atuação. 

A atuação de cadáver se estende ao elenco de apoio também, e há uma cena terrível que resume tudo perfeitamente. Depois que Eric volta dos mortos, um dos personagens que o matou o vê pela primeira vez novamente. Em vez de ficar assustado por estar vendo um fantasma, ele diz: "Eu matei você", enquanto encosta no banco do carro. Nenhuma surpresa. Nenhum choque. Que cena asquerosa.

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Existem qualidades resgatáveis em "O Corvo", no entanto? Bem, o terceiro ato entrega a violência e a ação prometidas no trailer. Eric não se contém em sua busca por vingança enquanto limpa seu caminho através de um teatro de ópera para chegar àqueles que o injustiçaram. Há uma forte estética e estilo de John Wick na sequência de ação, pois é altamente coreografada, sangrenta e totalmente brutal. Além disso, Rupert Sanders a amarra primorosamente à ópera que acontece no palco e à música que define a cena, dando-lhe uma sensação de poesia violenta em movimento. No entanto, os espectadores têm que assistir a uma grande quantidade de conteúdo ruim para chegar ao ponto em que Eric realiza sua vingança. 

Dito isso, depois de uma longa espera para que "O Corvo" voe novamente, esse filme deixa um gosto amargo na boca. É fácil perceber que os cineastas não queriam recontar a mesma história de antes, mas essa versão de Eric e Shelly não consegue se conectar ou dar qualquer razão válida para existir. Este filme não tem a paixão ou a pungência do original, ou mesmo algumas das sequências divisivas. Para aqueles que procuram histórias melhores sobre o corvo mítico que traz almas de volta para corrigir os erros, confira os quadrinhos da IDW Publishing.

"O Corvo" já está disponível nos cinemas nacionais.

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