Título | M8 - Quando a Morte Socorre a Vida |
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Ano produção | 2019 |
Dirigido por | Jeferson De |
Estreia | 3 de dezembro de 2020 (Brasil) |
Duração | 84 minutos |
Classificação | 12 - Não recomendado para menores de 12 anos |
Gênero | |
País de Origem | Brasil |
Maurício começa a estudar na renomada Universidade Federal de Medicina. Em sua primeira aula de anatomia, ele conhece M8, o cadáver que servirá de estudo para ele e os amigos. Durante o semestre, o mistério da identidade do corpo só pode ser desvendado depois que ele enfrentar suas próprias angústias.
• Por Alisson Santos
• Avaliação - 8/10
Quando uma conversa começa sob algo importante do qual socialmente não somos capazes de compreender totalmente ou participar, a ação mais educada a fazer é ouvir e prestar atenção, para que você possa lutar por isso do seu próprio jeito. E às vezes essa pequena ação nos olhos de alguém é uma ameaça, como claramente retratado neste filme. Sinceramente fica cada vez mais difícil compreender a percepção de algumas pessoas quando um filme como este é lançado, e este não foi o único este ano e parece que as recepções serão sempre divididas, o que é triste, no mínimo.
Há dois grandes momentos que me marcaram durante a cabine de “M8”. Uma delas se chama Mariana Nunes, atriz que interpreta Cida, a incansável mãe do protagonista, a atriz dá um show em um dos diálogos do filme no qual todos ovacionaram pois realmente te deixa catatônico. A outra é a própria presença dos três corpos negros, dados como indigentes e doados pelos hospitais à universidade, prostrados nas macas em uma sala de aula, servindo aos alunos do primeiro período de medicina para a temida aula de anatomia.
A cena em que o diretor Jeferson De nos revela esses corpos pela primeira vez é impactante. Com movimentos de câmera precisos, o espectador é exposto às imagens dos corpos de forma sombria e eficaz, a ambientação trazida pela cenografia arrepia todos os fios.
Maurício é o protagonista, interpretado pelo jovem Juan Paiva. “Negão” e "cotista", como um de seus colegas o chama em determinada ocasião, o estudante precisa todos os dias atravessar a cidade do Rio de Janeiro, por meio de transporte público, para chegar da sua casa até a Universidade, às vezes fazendo uma parada no trabalho da mãe, técnica em enfermagem e responsável por cuidar de Salomão, ou Sal, como o menino prefere chamar com afetuosidade, um ricaço idoso que encara as últimas semanas de vida no conforto de sua mansão.
O roteiro, assinado pelo próprio diretor em parceria com Felipe Sholl, a partir do livro homônimo de Salomão Polakiewicz, não hesita em imprimir um tom de denúncia para todas as situações que se apresentam: o único calouro negro no disputadíssimo curso de medicina da federal, o colega de classe invejoso e racista, a mãe preconceituosa da namoradinha branca da zona sul, a violência policial, os problemas estruturais da comunidade em que vive e, por fim, outra imagem recorrente, a manifestação dolorida das mães cujos filhos estão desaparecidos – e provavelmente mortos pela famigerada “guerra ao tráfico” na capital fluminense. Listo todos esses assuntos porque o próprio filme faz questão de exaltar cada um deles, por mais que a sua pouca duração jamais dê conta de se aprofundar na maioria.
Há dois grandes momentos que me marcaram durante a cabine de “M8”. Uma delas se chama Mariana Nunes, atriz que interpreta Cida, a incansável mãe do protagonista, a atriz dá um show em um dos diálogos do filme no qual todos ovacionaram pois realmente te deixa catatônico. A outra é a própria presença dos três corpos negros, dados como indigentes e doados pelos hospitais à universidade, prostrados nas macas em uma sala de aula, servindo aos alunos do primeiro período de medicina para a temida aula de anatomia.
A cena em que o diretor Jeferson De nos revela esses corpos pela primeira vez é impactante. Com movimentos de câmera precisos, o espectador é exposto às imagens dos corpos de forma sombria e eficaz, a ambientação trazida pela cenografia arrepia todos os fios.
Maurício é o protagonista, interpretado pelo jovem Juan Paiva. “Negão” e "cotista", como um de seus colegas o chama em determinada ocasião, o estudante precisa todos os dias atravessar a cidade do Rio de Janeiro, por meio de transporte público, para chegar da sua casa até a Universidade, às vezes fazendo uma parada no trabalho da mãe, técnica em enfermagem e responsável por cuidar de Salomão, ou Sal, como o menino prefere chamar com afetuosidade, um ricaço idoso que encara as últimas semanas de vida no conforto de sua mansão.
O roteiro, assinado pelo próprio diretor em parceria com Felipe Sholl, a partir do livro homônimo de Salomão Polakiewicz, não hesita em imprimir um tom de denúncia para todas as situações que se apresentam: o único calouro negro no disputadíssimo curso de medicina da federal, o colega de classe invejoso e racista, a mãe preconceituosa da namoradinha branca da zona sul, a violência policial, os problemas estruturais da comunidade em que vive e, por fim, outra imagem recorrente, a manifestação dolorida das mães cujos filhos estão desaparecidos – e provavelmente mortos pela famigerada “guerra ao tráfico” na capital fluminense. Listo todos esses assuntos porque o próprio filme faz questão de exaltar cada um deles, por mais que a sua pouca duração jamais dê conta de se aprofundar na maioria.
É terrivelmente bonita a realização, a criação de planos, onde Jeferson De flagra as janelas sendo fechadas para a passagem de seu protagonista, quando o olhar para ele por seus irmãos de cor em empregos subalternos é de uma enraizada mágoa, quando Maurício não é atendido em uma recepção, mas seu amigo branco sim, quando ele leva um esporro de um policial também negro simplesmente por ser negro. É a expressão 'lugar de fala' sendo utilizada da forma correta, por um cineasta atento à discussão que pode provocar com seu filme e o alcance que seu trabalho pode dar a um estado de coisas muito injusto por tão aceito e acomodado.
Em alguns momentos, no entanto, a carga dramática que Jeferson De impõe a seu filme condiz com a efervescência de sua revolta com o seu entorno, mas desequilibra o material, trazendo um certo didatismo pro centro dos eventos. Como dito, era de fato inevitável que alguns 'gritos revoltosos' fossem dados com menor sutileza, mas as cenas em si criam uma ranhura com outras tão bem elaboradas e cuidadosas. Ainda que todas as decisões tenham sido pensadas para incomodar, explicitar e provocar o debate, cinematograficamente o filme se compromete. Não estou tão familiarizado com a filmografia de Jeferson De, mas este filme certamente despertou meu interesse em seus projetos, e espero que um dia todas as vidas importem, mas todas as vidas não importarão até que as vidas negras o façam.
Em alguns momentos, no entanto, a carga dramática que Jeferson De impõe a seu filme condiz com a efervescência de sua revolta com o seu entorno, mas desequilibra o material, trazendo um certo didatismo pro centro dos eventos. Como dito, era de fato inevitável que alguns 'gritos revoltosos' fossem dados com menor sutileza, mas as cenas em si criam uma ranhura com outras tão bem elaboradas e cuidadosas. Ainda que todas as decisões tenham sido pensadas para incomodar, explicitar e provocar o debate, cinematograficamente o filme se compromete. Não estou tão familiarizado com a filmografia de Jeferson De, mas este filme certamente despertou meu interesse em seus projetos, e espero que um dia todas as vidas importem, mas todas as vidas não importarão até que as vidas negras o façam.
"M8 - Quando a Morte Socorre a Vida" estreia nos cinemas no próximo dia 3 de dezembro.
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